Há cerca de 3 anos atrás estava envergonhado comigo mesmo, por conta de um episódio pequeno. Um conhecido havia me perguntado:
“O que acha da RD Station? Vale mais a pena que o HubSpot?”
Eu respondi algo assim:
“Acho interessante, tem novas coisas surgindo todos os dias…”
Um detalhe: eu não sabia o que era a RD Station.
TInha acabado de finalizar um ciclo em uma startup de seguros – altamente focado naquele negócio – e estava um pouco por fora de ferramentas que estavam ganhando tração na época.
Meu colega queria me consultar sobre o assunto e, naquele momento, minha vaidade de “especialista” não me permitiu falar que não conhecia a ferramenta.
Falo disso não só para expurgar a sensação ruim do episódio, mas porque sinto que ele representa uma síndrome moderna: em um mundo que o novo sempre vem, parecer desatualizado virou crime inafiançável. Qual o problema em não conhecer uma ferramenta?
Apesar de se falar muito em cultura do erro e adaptação, vivemos em ambientes que podem julgar pesadamente o profissional que diz “não sei” ou “não entendo disso”. Que sorte é ter na reunião um estagiário que pode ter dúvidas!
Colocando em outros termos: não valorizamos a humildade.
Por humildade quero dizer: a virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações. Não confundir com modéstia, submissão, baixa auto-estima, introspecção ou incerteza. É o mero exercício de admitir o que sabemos e o que não sabemos.
Ou seja, é pré-requisito básico para aprender, podendo conviver perfeitamente com ambição e vontade de crescer profissionalmente.
O marketing digital sozinho tem dezenas de disciplinas e mais de 7 mil ferramentas. Você tem que entender de tecnologia, comunicação, big data, gestão, análise, CRM, conteúdo, mídia de performance…
(na verdade você tem que entender do seu negócio e do seu cliente, o resto é consequência. Mas isso é assunto para outro dia)
Nesse cenário, ao invés de entender nossas limitações e usar essa inquietação como incentivo para aprender uma coisa nova, muitas vezes fazemos o contrário: ficamos na superfície das questões, entendendo o suficiente para conseguir se posicionar, sem se especializar em nada. Por vezes, bate um certo sentimento de desorientação (o excesso de informação tem seus riscos, confundimos agilidade com ansiedade).
Quem surfa nesse cenário? Não é quem tem a humildade de aprender mas quem tem a prepotência de achar que sabe tudo. Afinal, quando ficamos na superfície dos conceitos, apresentação e confiança valem mais do que profundidade técnica.
Mas o maior dano é que se você já sabe tudo não tem nada que precise aprender.
Por isso me preocupa a forma como o growth hacker é colocado por vezes: um super-homem que vai resolver qualquer problema que fique no caminho do seu crescimento. (na verdade o correto seria dizer que ele tem a capacidade de aprender a resolver qualquer problema).
Sem desmerecer a “visão do todo”, que sem dúvida é necessária, principalmente quando também se consegue ser especialista em uma ou duas disciplinas (o conceito de carreira em T).
Trocando em miúdos:
Humildade + inquietação = aprendizado
Se você não controlar seu ego, não tem como estar aberto para aprender (por mais que os incentivos externos sejam outros). Vale ouvir o que a Brene Brown tem a dizer sobre vulnerabilidade.
Por fim, gostaria de dividir meu trecho favorito do livro “o ator invisível”, de Yoshi Oida:
No teatro Kabuki, há um gesto que indica “olhar para lua”, quando o ator aponta o dedo indicador para o céu. Certa vez, um ator, que era muito talentoso, interpretou tal gesto com graça e elegância. O público pensou “Oh, ele fez um belo movimento!” Apreciaram a beleza de sua interpretação e a exibição de seu virtuosismo técnico.
Um outro ator fez o mesmo gesto; apontou para a lua. O público não percebeu se ele tinha ou não realizado um movimento elegante; simplesmente viu a lua. Eu prefiro este tipo de ator: o que mostra a lua ao público. O ator capaz de se tornar invisível.
Temos que nos tornar profissionais invisíveis: quem aparece é o nosso trabalho e não o nosso ego.
Para tranquilizar: não importa o que você faça, no mundo de hoje sempre vamos estar desatualizados em alguma coisa. Não tem vergonha nisso. Quando necessário, faça como os estagiários: senta e aprenda, uma coisa de cada vez.
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